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Dia do Rock?

Posted by Dimitri Brandi On 0 comentários

Segundo vem sendo divulgado há alguns anos, 13 de julho seria o "Dia do Rock".

No começo até que achei simpático, mas neste ano de 2007 fui tomado por um verdadeiro ódio contra essa história. "Dia do Rock" para quê? Algum outro estilo musical tem uma data? E porquê 13 de julho? Porque não 13 de fevereiro, data de lançamento do primeiro disco do Black Sabbath? Ou 13 de maio, aniversário do Chuck Schuldiner?

Sempre me lembro a piada idiota contada infinitas vezes toda vez que é Dia Internacional da Mulher: "Os outros 364 são do homem". A gracinha mostra uma certa ignorância com a história dessa importante data, em que mulheres foram mortas por fazerem greve em que exigiam creches para seus filhos e condições de trabalho mais dignas.

Mas, quanto ao "Dia do Rock", a piada até que é mais coerente. Pois os outros 364 dias do ano são dedicados ao axé, ao forró, ao sertanojão, ao funk carioca e outros estilos detestáveis de música. Ou são dedicados à música comercial, rótulo que começa a se adequar ao próprio Rock'n'Roll. A mídia só lembra do Rock no dia 13 de julho, ou quando algum mega-show se transforma em acontecimento. Aliás, é muito engraçado que shows de Heavy Metal que reúnem milhares de pessoas sejam ignorados pela imprensa, mas quando os "artistas da vez" tocam para 200 pessoas numa casa de shows lotada de mesas e garçons, isso ganhe até reportagem no Jornal Nacional.

O mais irritante é que a maioria das "datas comemorativas" têm clara origem comercial: dia dos pais, das mães, da sogra... Tudo desculpa para o comércio faturar mais com presentes que se tornaram "obrigatórios". Ai de quem não dá um presentinho no dia dos namorados, corre o risco de ficar solteiro. Quem não lembra da mãe no dia das mães mostra que não tem coração...

Até o Natal, que seria uma data de inspiração religiosa, histórica e espiritual, se transformou no grande aniversário do Papai Noel, em que todos comemoram a neve gastando tudo o que ganharam durante o ano nos shopping centers decorados com renas, trenós e pinheiros cobertos de gelo. Isso no Brasil, em que o Natal acontece no verão, e ninguém nunca viu nem uma rena nem um trenó...

Será que o "Dia do Rock" vai virar uma palhaçada dessas? "Presenteie sua mãe no Dia do Rock com o novo CD do Iron Maiden" ou "Nesse dia do Rock seu filho vai adorar os novos bonequinhos do Kiss".

Aliás, Kiss e Iron Maiden já há alguns anos viraram mais sucursais de agências de publicidade do que bandas. Costuma-se dizer que tudo que eles lançam os fãs compram. E eles lançam milhares de itens de merchandising todos os anos: desde bonecos, livros, pôsteres, jogos até carros pintados com imagens e que custam milhares de dólares. Até uns CDs de vez em quando, nem que sejam ao vivo ou coletâneas.

Antes que o Rock se transforme exclusivamente em fonte de renda para grandes empresas, vamos dizer NÃO ao "Dia do Rock", lembrando que nada há a comemorar quando um estilo musical contestador, baseado no questionamento dos valores dominantes da sociedade, se transforma num subproduto da indústria cultural. Só falta algum gênio escolher uma data para ser o "Dia do Underground".

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