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Metal nacional - a trancos e barrancos

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O Psychotic Eyes está na ativa desde 1999, e durante todos esses anos pude ver a dificuldade que é levar uma banda de metal underground no nosso país. Primeiro, porque nosso povo é pobre, comprar CDs não é prioridade. Não é como na Europa e nos Eua, onde os adolescentes recebem mesadas de valor alto e sobra grana para eles comprarem todos os CDs que são lançados todos os meses. Aqui, a maioria do público de metal é formada por jovens estudantes, desempregados ou em empregos que só permitem assegurar a subsistência, sem muitos luxos. É claro que há exceções e não é raro ver um monte de gente em lojas de CD comprando um caminhão de CDs, mas geralmente esse povo não dá a mínima para o metal nacional.

Esse preconceito por parte do público acho que é o pior. Para uma banda nacional ser bem considerada, ela sempre é comparada com grupos do exterior. Várias vezes já vi em cartazes de shows anunciarem o Psychotic Eyes como sendo parecido com alguma banda gringa. "Death metal no estilo X". O pior é quando a tal banda "X" não tem nada a ver com o seu som, ou, às vezes acontece, comparam o Psychotic Eyes com uma banda que eu nunca ouvi nem falar.

Outra maneira de uma banda "estourar" é fazer sucesso no exterior. Aí sim, se foi aprovado pelos "gringos", merece ser valorizado no Brasil. Foi o caso de muita banda boa, que merecia reconhecimento por seus próprios méritos, mas só obteve algum depois de uma turnê ou disco lançado na Europa ou EUA. Ridículo, não? São os estrangeiros decidindo o som que nós aqui no Brasil devemos ouvir. Mesmo que as bandas sejam brasileiras, só podemos ouvir se aprovado por "eles"...

Já cansei de ouvir gente reclamando disso, e reclamar não tem adiantado muito, pois a coisa parece que só piora. Show de banda estrangeira, ingresso a R$ 100. Lotado! Show com 6 bandas brasileiras, todas de qualidade, ingresso a R$ 5. Vazio? Não, tem os "brothers" e as namoradas dos caras das bandas. Com 6 bandas, cada um com uns 4,5 componentes, mais uns 3 amigos, namoradas, etc. Pode contar uns 70 carinhas no evento. E só.

Isso quando a banda não toca sem público, ou só para os caras das outras bandas que também vão tocar no mesmo evento. Já vi também juntar um monte de gente, mas só na porta. O povo fica enchendo a cara no bar da esquina e não entra no show, porque a cerveja do local é mais cara do que no buteco do Mané. Mas no show do Nightwish com a cerveja a R$ 8 e o ingresso a R$ 120, lotou o Via Funchal, que é mil vezes maior do que os locais que abrem espaço para bandas underground.

Outra coisa surreal são os locais de show. O equipamento usualmente é abaixo do aceitável. Se a banda não levar metade da bateria, amplis de guitarra, às vezes até microfone, não tem show. A banda também é responsável por fazer os cartazes, divulgar o evento, avisar a galera, fazer e distribuir os flyers. O local só cobra ingresso e ganha o dinheiro da bebida. E sabe quanto a banda recebe? Nada!

Também é a mesma lógica quando pensamos nas gravadoras underground. Salvo alguns guerreiros do metal que são exceção, e tocam os selos por paixão ao estilo, a maioria é formada por gente que quer lucro alto e rápido, sempre em cima do trabalho das bandas. O grupo tem que pagar a gravação inteira, e isso dá uma grana preta. Não há investimento no disco, por parte do selo, a parte de gravação e mixagem geralmente é bancada pela banda. Depois o selo só manda prensar o disco (sai mais ou menos R$ 3 cada CD), distribui (mal distribuído, geralmente. É quase impossível encontrar CDs underground fora das lojas do underground, isso quando só se acha o disco na loja que tem o selo) e faz a divulgação. Divulgação que geralmente são anúncios bem pequenos em duas ou três revistas. Nenhum marketing no exterior.

Aí você pensa: pelo menos a venda dos CDs reverte para a banda? Coisa nenhuma! Os contratos padrão do underground brasileiro prevêem pagamento em quantidade fixa de CDs, geralmente 20% de cada prensagem. A banda recebe os CDs e ela que se vire para vender. E com isso tem que pagar a gravação, distribuir pros amigos, família, etc. Não me espanta que quase ninguém consiga viver de música no Brasil, com um esquema desses.
Longe de só querer reclamar, acho que uma coisa ficou clara: quem toca numa banda de metal no Brasil é guerreiro. É o tipo de batalha em que você já é vencedor só por continuar batalhando.

Para que não me interpretem mal, quero agradecer aos organizadores de shows, donos de selo, fanzines e revistas honestos, que valorizam nosso metal. Pena que são minoria.

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