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Nikola Tesla, o MP3 e o futuro da música

Posted by Dimitri Brandi On 3 comentários

Hoje li dois textos que tratam de ideias totalmente distintas, mas que me fizeram refletir sobre o mesmo assunto. O primeiro é um artigo do blog do Eliton Tomasi, que trata da indústria músical nesses tempos de “crise mundial” pós MP3. Defende que a verdadeira forma de expressão artística não pode ser conectada ao desejo de lucro, pois a obra não pertence ao artista, sendo um patrimônio da humanidade. Assim, o natural é que a música seja gratuita. O que está errado é cobrar por ela, e só existe “crise da indústria fonográfica” porque esse modelo se esgotou por conta da revolução tecnológica da qual o mp3 é – apenas – a ponta do iceberg.

O outro artigo é um texto do B.Piropo, especialista em informática e colunista de diversos jornais. Acompanho seu trabalho desde que comprei meu primeiro microcomputador, um MSX com incríveis 8 kB de memória. Na época ele escrevia no jornal "O Globo", mas hoje tem um site muito interessante, que reúne tudo o que ele escreveu. Pois lá há uma série de artigos sobre Nikola Tesla, um dos maiores cientistas que a humanidade já produziu. Também é um dos mais injustiçados, pois não foi reconhecido nem mesmo depois de morto. Foi o verdadeiro inventor do rádio, mas quem ganhou o Prêmio Nobel e os livros didáticos foi o italiano Marconi.

Uma das ideias de Tesla era que a transmissão de eletricidade fosse feita sem cabos. “Wireless”, na linguagem moderna. Ele inventou um dispositivo para isso, que aumenta a tensão elétrica em milhares de vezes, permitindo que raios e centelhas quebrem a resistência do ar e possam servir para alimentar aparelhos situados a quilômetros de distância. Esse fenômeno é citado em uma cena do filme “O Grande Truque” (“The Prestige”, no original), em que Tesla é interpretado por David Bowie.

Quando Tesla procurou o banqueiro J.P.Morgan (o mesmo que fundou o banco que agora quase quebrou e desencadeou a “crise econômica mundial”) para que este financiasse a produção do seu invento, não conseguiu. Porque o capitalista se recusava a financiar algo que não lhe daria lucro. Pois se a transmissão de energia seria feita sem fio, qualquer um poderia utilizá-la e não se imaginava meios de cobrar por isso.

Não é igual ao MP3? Hoje a música é distribuída de graça, e isso é uma realidade, independente da vontade das gravadoras ou das disposições das leis de direito autoral.

O que muita gente não percebe é que não há nada de novo ou escandaloso nisso. A maioria da música que ouvimos não é por meio de consumo. Podemos ficar o dia inteiro ouvindo música e não gastar um centavo, basta ligar o rádio. Se estamos num evento e há música tocando, só com um cálculo bizarro poderíamos achar que estamos pagando por aquilo. O disco é um fenômeno recente na história. Só se tornou popular na década de 1960. Antes, o meio comum de ouvir música era o rádio (inventado por Tesla) e antes dele, a música ao vivo. E ninguém paga “por música” quando vai a um show. O ingresso é pelo conjunto do espetáculo, que não inclui só o salário dos músicos.

Agora temos a crise econômica mundial, desencadeada pela quebra do banco que se recusou a financiar a eletricidade gratuita. As gravadoras, que se recusam a permitir a distribuição gratuita de música, irão, irremediavelmente, se extinguir. O novo modelo que surgirá disso ninguém ainda previu, mas eu tenho um leve palpite: não haverá mais consumo de música. Ouvirei o que quiser e não pagarei por isso. O que não quer dizer que será de graça. Pois vou ter que comprar um tocador de MP3 ou um aparelho de som. E para baixar música terei que ter um microcomputador e uma conexão à internet. E na internet serei bombardeado por propaganda, e haverá formas de “jabá” eletrônico, em que arquivos de determinados artistas recerão mais “espaço” ou banda para download, ou serão anunciados nos melhores sites. Vou consumir outras coisas, mas não a música em si.

Para uma banda independente, como o Psychotic Eyes, talvez não faça a menor diferença. Pois não lucramos nada, no final das contas. Se não estivéssemos no metal por amor ao estilo e vontade de fazer música, já teríamos desistido. Mas talvez esse novo modelo seja mais justo, e isso será bom, pois haverá mais espaço para o fã decidir o que quer ouvir, sem o intermédio das grandes empresas capitalistas.

Estas, talvez nem a “crise mundial” as faça deixar de existir.


PS: não sou defensor do MP3. Acho lastimável a maneira como a atual geração ouve música. Baixa-se mais do que se consegue apreciar. Não há mais aquela coisa de ouvir um disco até riscar decorando o encarte. E são uma verdadeira porcaria essas caixinhas de computador e os headphones que vem com os tocadores. De que adianta gravar uma música com o Andy Sneap, no melhor estúdio do mundo, com uma guitarra caríssima de madeira da selva amazônica, se ela será tocada num alto falante feito de plástico de embalagem de remédio?

3 comentários:

Anônimo disse...

O artigo , muito bem escrito e rico, está coberto de razões pertinentes até em suas observações finais.
Tem-se acima do que se pode aproveitar, desmerecendo o esforço de quem fez.
parabéns Dimitri, mais uma vez, pela clareza, pelo conteúdo e pela opinião pessoal.

Grande Abraço

Reaper

Anônimo disse...

Bem, ao menos você mudou um pouco seu psychotic olhar sobre o mp3. Sobrou só o desprezo quanto à forma de se apreciar o som baixado de graça. Isso eu concordo. Troquei, em casa, minhas ridiculas caixinhas Genius por duas caixas de madeira com mais de um metro de altura, três saídas, qualidade primorosa de som. Agora sim eu consigo ouvir musica em casa, ainda que eu não tenha tempo para tal.

Mas o que se pode fazer? Nem todo mundo consegue um aparato desses. Ninguém vai deixar de baixar musica porque só pode comprar uma caixinha Genius de 25 reais.

Aí vivem os capitalistas que não vão morrer com a crise.

Belo texto, brother!!

Eliton Tomasi disse...

Parabéns pelo texto, Dimitri.

Só queria destacar que não defendo qualquer estratégia ou opinião, apenas quis sugerir uma idéia para reflexão.
No mais, não penso na música como propriedade da "raça humana", o enfoque foi metafísico, transcendental. A música, e toda criação, é propriedade do cosmos, do Todo. Seja humano ou não.
:)

O seu texto me fez imaginar um portal para download gratuito de música mas totalmente legalizado e dentro das leis de copyright.
Que modelo de negócios promissor, hein!

Abração